5 recomendações para quando for pedir demissão

10 de agosto de 2021
Publicado em 21 de agosto de 2020

Existem poucos momentos da minha carreira que me lembro com tanta clareza quanto as vezes que fui pedir demissão.

 

Lembro do frio na barriga, do suor frio e dos scripts decorados, cheio de palavras escolhidas com todo cuidado para não estragar o relacionamento que foi construído até aquele momento.

 

Aliás, falando em relacionamento, costumo comparar um pedido de demissão com o término de um namoro: ninguém quer sair brigado, muito menos ofender ou magoar a outra pessoa, e se ainda puder manter a amizade (ou no caso da empresa, as portas abertas), melhor!

 

Pensando nisso listei os 5 pontos mais importantes que você precisa passar para que o seu pedido de demissão seja feito da melhor forma possível:

 

1) Se prepare

Ao longo da minha carreira já vi de tudo! De gestores que ficaram felizes e apoiaram a decisão até gestores que encararam a saída como um ato de traição.

 

Se prepare também para ouvir uma contraproposta, na tentativa de fazer você mudar de ideia e continuar na empresa. Mas lembre-se, ela é uma ação de retenção, e não de reconhecimento. — veja aqui o que escrevi sobre isso.- falta link

 

Então, como não sabemos qual será o cenário, é melhor estar bem-preparado e evitar surpresas. Já vi barbaridades acontecendo mesmo quando havia um ótimo relacionamento e tudo parecia indicar para uma saída tranquila, então recomendo que você esteja pronto para o pior cenário, pois assim tem a chance de se surpreender.

 

E caso aconteça esse pior cenário, não leve pelo lado pessoal! Lembre-se que muita coisa pode estar acontecendo nos bastidores, sua saída pode afetar a dinâmica da área, exigir um esforço maior dos seus outros pares, ou ainda do próprio gestor, e até afetar os resultados da companhia, por isso a carga emocional pode estar bem abalada.

 

O que já aconteceu:

Tenho dois amigos que trabalharam na mesma empresa por anos. Ambos estavam em posições de diretoria, um em um nível sênior e outro júnior.

 

Quando o que estava na posição júnior foi pedir seu desligamento ao sênior, o pior cenário aconteceu — e o surpreendeu, pois eles tinham um ótimo relacionamento pessoal, inclusive fora do ambiente profissional.

 

Nessa conversa ele ouviu coisas como: você está cometendo um erro, vai se arrepender! a empresa X é uma porcaria, ‘vai se queimar aqui e nunca mais conseguir voltar, entre outras coisas.

 

Acontece que depois de uns dias desse episódio eu liguei para o executivo sênior, comentando que soube da saída do júnior e sabe o que ele me disse?

 

Que estava feliz pela sua mudança, que se estivesse em seu lugar faria o mesmo, que desejava muito sucesso e tudo mais. Mas que pela sua posição na organização ele precisava ser mais duro!

 

 

2) Menos é mais

Justamente por isso, não é necessário contar todos os detalhes da sua nova posição: seu novo salário, cargo, ou até a sua nova empresa. Isso vai ajudar a evitar o cenário que descrevi acima, além de dar menos espaço para uma tentativa de retenção.

 

Além disso, é importante ter objetividade e ir direto ao ponto. Você está saindo por algum motivo: pode ser uma nova posição, um novo desafio, ou segmento.

 

Não é por estar encerrando seu relacionamento com a empresa que significa que você deve abrir o baú e contar todos os motivos que fez você olhar para fora, especialmente se houve algo que não foi legal. Não é hora de abrir o coração e vomitar o que está preso.

 

Qual o problema?

Quando você resgata TODAS as coisas ruins que já aconteceram na empresa, fica a impressão de que foram esses os motivos para sua saída e não sua nova oportunidade.

 

O pior é quando um ainda fica tentando justificar o passado e o outro se defendendo, como se isso fosse adiantar alguma coisa.

 

Agradeça todo apoio e desenvolvimento que teve ao longo do tempo que esteve nessa organização, mas deixe essa revisão do passado para um outro momento, como a entrevista de desligamento, por exemplo.

 

3) Prepare um plano de saída

Recomendo que você estruture uma transição para poder apresentar ao seu gestor e assim acelerar seu processo de desligamento.

 

Como você pretende passar suas tarefas e responsabilidades? Existe alguém que pode assumir suas atividades atuais? Como será o andamento dos projetos/clientes que você está conduzindo?

 

É cada vez menos comum a necessidade de cumprir os 30 dias de aviso prévio, essa situação é ruim para os dois lados. A empresa pode desconfiar se o nível de qualidade e comprometimento será o mesmo, e o colaborador que pediu demissão já está com a cabeça na outra empresa.

 

Por outro lado, é normal que sua empresa atual queira que você fique mais tempo possível, para não deixar a peteca cair enquanto não tem ninguém para assumir suas funções, ao mesmo tempo que sua nova empresa quer que você comece imediatamente.

 

Fazendo um bom plano de transição todos saem ganhando, inclusive você, que pode ainda fazer essa mudança sem precisar passar por uma fase de ansiedade e excesso de trabalho.

 

4) Comunicação

Pessoas falam e a rádio peão funciona, talvez até bem demais.

 

Já vi situações em que um colaborador saiu da empresa porque encontrou uma posição fantástica, com salário e perspectivas melhores, mas a história que ficou é que ele foi desligado por falta de performance.

 

Assuma a responsabilidade de ter conversas individuais com todas as pessoas com quem você se relacionava em sua posição. Pode dar trabalho, mas é fundamental.

 

Mais do que se preocupar com o que vão falar sobre você, é importante ter um bom relacionamento com todos, o mercado de trabalho é pequeno e nunca se sabe como serão seus próximos passos.

 

Depois da conversa com seu gestor imediato, procure imediatamente a área de Recursos Humanos, mas converse também com sua equipe, seus pares, com as outras áreas e departamentos com que se relacionava, com superiores e com outros influenciadores da companhia.

 

Nessa conversa, conte os motivos de sua saída, evitando um confessionário, comente sobre o novo projeto, mantendo ainda discrição sobre os detalhes: menos é mais, comente também sobre o plano de transição que já fez para trazer menos impactos possíveis e se coloque à disposição para ajudar com o que puder, se comprometendo a compartilhar seus novos contatos quando começar na nova empresa.

 

Fofocas serão inevitáveis e não devem ser motivo de preocupação, mas agindo dessa forma elas certamente terão um peso menor com as pessoas com quem conversou individualmente.

 

5) Se organize

Toda essa preparação não garante que você sairá ileso, mas certamente vai ajudar a manter as portas abertas! Prepare-se também para dias intensos de trabalho, mas fique de olho na sua nova casa.

 

Vale a pena começar a cultivar seus relacionamentos na nova empresa, construindo conexões com seus futuros colegas, o Linkedin é fantástico para isso, além de acompanhar mais de perto notícias sobre o novo segmento e empresa.

 

Construa um bom plano de saída e tente tirar uns dias para você. É importante respirar e se preparar para a nova fase que está para começar.

 

Fernando Paiva – Headhunter