Quanto vale o “QI” em recrutamento?

7 de julho de 2021

 

QI = Quem indica

Resolvi falar sobre esse tema aqui depois que escrevi meu último texto “Por que eu não fui contratado?”, pois recebi alguns comentários falando de maneira negativa do QI, com um certo tom de injustiça ou de incorreto.

 

E não foi só nessa ocasião que ouvi comentários desse tipo e sei que esse termo faz parte de um quase ditado popular do mercado de trabalho.

 

Felizmente, já começo com uma boa notícia: o mundo do recrutamento está mudando e você está lendo esse artigo justamente numa das plataformas responsáveis por essa mudança, o Linkedin.

 

Isso significa que o Brasil está passando por um processo de profissionalização do recrutamento, se é que posso chamar assim. Entretanto, as indicações sempre foram, ainda são e acredito que sempre serão muito bem-vindas.

 

Diferença entre QI e Indicação

Acredito que haja uma grande confusão em relação a isso. Vejo que ao QI está associado uma imagem mais negativa, enquanto a indicação é melhor aceita, ainda que não por todos.

 

QI

Fui buscar a origem dessa expressão e descobri que suas raízes estão no tempo da colonização, no qual pessoas eram indicadas para cargos sem preencherem os requisitos básicos.

 

Ela tristemente se relaciona com um histórico de abuso de poder, nepotismo (indicação de parentes sem perfil) e apadrinhamento em concursos públicos. Enfim, acho que agora fica mais fácil entendermos a aura negativa em torno da expressão.

Fonte: STF (Supremo Tribunal Federal)

 

Isso ainda existe?

Sim. Sabemos de histórias recém-contadas de apadrinhamento na esfera pública.  Já na esfera privada, ele igualmente existe, porém é menos noticiado, principalmente por não ser proibido.

 

A única coisa que acontece com uma empresa privada onde o QI tem poder é a perda da credibilidade perante seus funcionários e até para o mercado, dependendo da situação, isso para mim já é gravíssimo.

 

 

Indicação

As indicações têm muito valor não somente em um processo de recrutamento, mas em tudo em nossa vida. Ou você não pede indicação para trocar o forro do sofá, encontrar um veterinário para seu cachorro, contratar um pedreiro para fazer uns ajustes em sua casa?

 

Pedimos indicação para quase tudo na vida por um motivo muito simples: alguém já comprovou que é bom e, com isso, tenho maiores chances de ficar satisfeito com o produto/serviço/profissional.

 

Receber uma indicação para um processo de recrutamento é extremamente normal, válido e precioso.

 

Prêmios

Algumas empresas, inclusive, incentivam seus funcionários a indicarem profissionais aderentes à cultura da empresa para as vagas em aberto ou para ficarem “mapeados” pelo RH para futuras oportunidades. Alguns prêmios são em dinheiro, se o profissional indicado for realmente muito bom, aderente e for contratado.

 

Na minha opinião essa é uma excelente estratégia, principalmente porque você passa a ter centenas de olhos seus funcionários atentos à profissionais talentosos e que combinam com a cultura da sua empresa – o que é mais difícil de encontrar, certamente.

 

Consultorias de Recrutamento

Todos os nossos processos envolvem uma etapa de pedido de indicações (falo em nome da heads). Adotamos essa estratégia para enriquecer o mapeamento de candidatos que se candidataram espontaneamente e aos que foram encontrados em nossas buscas.

 

Saindo dessa particularidade, todos as indicações são bem-vindas, mesmo as espontâneas.

 

 

Pense comigo: Você indicaria um profissional ruim para uma vaga?

Não podemos nos esquecer que toda vez que fazemos uma indicação nos tornamos de certa forma responsáveis pelo resultado. É exatamente igual quando você indica uma costureira a um conhecido e ela presta um serviço horrível e ainda estraga as roupas da pessoa. Você não se sente responsável?

 

Justamente por isso que as indicações tendem a ser boas e justamente por isso elas são muito valiosas.

 

 

Os 2 caminhos a seguir após receber uma indicação

O caminho “saudável” é avaliar o profissional indicado em pé de igualdade com os outros participantes do processo, até porque todos os candidatos são apenas currículos antes do início do processo, certo?

 

Lembram-se do passe sobre o qual comentei no artigo anterior? Então, um candidato recebe o passe para participar do processo se tiver um currículo que mostre as experiências e competências ainda vagamente exigidas pela posição, independentemente de como ele chegou ao processo (via site, via indicação, via busca).

 

A partir daí, se o indicado tiver as qualificações técnicas ele avança no processo como um candidato normal. O que ele tem a mais? O apoio de uma indicação, ou seja, uma referência de mercado.

 

Mas por que isso não deve assustar os outros candidatos? Porque em determinado momento do processo todos os participantes terão suas referências checadas com antigos superiores, subordinados, pares, clientes, enfim. Inclusive o indicado, pois a verdadeira referência é encontrada após ouvir diversos profissionais com opiniões diferentes sobre a mesma pessoa.

 

O caminho não saudável é aquele em que o processo vira uma encenação teatral para beneficiar o profissional indicado. Sim, isso existe. Muitas vezes, para apoiar a decisão de contratar um profissional cria-se um processo no qual a única intenção é mostrar que o já escolhido é realmente melhor que os outros. É o tipo de processo “pra inglês ver”.

 

A pergunta que fica é:

 

 

Sabendo que isso existe, o que você vai fazer? Você vai deixar de participar de processos? Vai perder a fé nos processos de recrutamento? Vai generalizar e acreditar que nada funciona direito nesse país?

 

Existem consultorias muito sérias nesse mercado, assim como existem empresas com RHs internos decentes e comprometidos com o resultado da corporação.

 

Lembrem-se que em um processo a empresa está avaliando o candidato, assim como o candidato está avaliando a empresa.

 

Em qual empresa você gostaria de trabalhar? Quais valores essa empresa precisa ter como guia?

 

 

Responda a essa pergunta e você saberá onde encontrar uma empresa que não te decepcione com esse tipo de atitude.

 

Mais uma vez espero ter contribuído com suas reflexões e, dessa vez, também espero ter ajudado a romper com uma (des)crença.

 

Camila Donatti – Headhunter

Publicado em 1 de outubro de 2015